quarta-feira, 7 de setembro de 2016


BÉLA GUTTMANN



Béla Guttmann (Budapeste, 27 de janeiro de 1899 — Viena, 28 de agosto de 1981) foi um futebolista e treinador húngaro de origem judaica. Guttmann é considerado ser o descobridor do astro do futebol português Eusébio.

Treinador do Honvéd, enfrentou Puskás pela substituição de um jogador, tendo nos balneários anunciado a sua renúncia. O seu estilo ofensivo reinou nas duas décadas de 1950 e 1960, em vários países, clubes e em dois continentes. Depois da sua saída da Hungria, torna o Enschede holandês (agora FC Twente) campeão. Assim que chega, leva o AC Milan à vitória no campeonato em 1954-55. No ano seguinte, vai para o futebol uruguaio, e é campeão com o Peñarol. Em 1957, faz outra mudança, desta vez no Brasil, com o São Paulo Futebol Clube. Lá, Béla Guttmann põe uma condição: contratar Zizinho, "Mestre Ziza", 35 anos, o jogador que encarnou o "futebol arte" no Brasil, o modelo e ídolo de Pelé, tendo-se tornado, uma vez mais, campeão.



De regresso à Europa, o destino foi Portugal, primeiro no Porto, onde também foi campeão, e depois para um dos "grandes" de Lisboa, o Benfica onde se senta ao lado do técnico brasileiro do São Paulo, José Carlos Bauer, ex-jogador dos Mundiais de 1950 e 1954. Este conta-lhe que viu uma grande promessa em Lourenço Marques, Moçambique. Béla Guttmann manda um emissário e em dias, no final de 1960, Eusébio da Silva Ferreira chega a Lisboa.



Final do Torneio de Paris, 1961. Béla Guttmann, desespera na final contra o Santos de Pelé, que vence por 3-0 no intervalo. A 20 minutos do final, coloca para jogar o Pantera Negra, Eusébio, que marca três golos seguidos. Guttmann dizia a Eusébio e aos seus outros jogadores: "Metamos três golos e já veremos". Este marca então três golos na partida, vencendo o Santos o prestigioso torneio por 6 a 3. O Jornal France Football titula "Eusébio 3 - Pelé 2". Béla Guttmann e Eusébio, à parte de ganharem os campeonatos portugueses, fariam do Benfica uma das melhores equipas da Europa nos anos 60. Foi o apogeu e o final feliz da grande história de Béla Guttmann.



Segundo o jornalista brasileiro Fabio Lima, ele tinha uma regra para sua carreira de treinador: nunca ficava mais de três anos numa equipe, pois considerava que este era o tempo antes de seus jogadores se desgastarem e perderem a motivação.

A "Maldição"

Em maio de 1962, a Europa assistia ao segundo título europeu consecutivo do Benfica, após derrotar o Real Madrid histórico de Di Stéfano, Puskas e cia por 5 a 3, com show do jovem Eusébio. Extasiados, os torcedores portugueses comemoravam mais uma grande conquista e o domínio sobre o futebol do continente. Mal sabiam eles que, a partir dali, uma nuvem negra pairaria sobre o clube.



Em fim de contrato, o técnico húngaro Béla Guttmann, comandante da equipe nos dois títulos da Uefa Champions League, pediu aumento salarial para continuar no cargo. A diretoria, porém, relutou em concedê-lo. Sem resolver o impasse, o treinador decidiu deixar o clube, para a tristeza de todos os benfiquistas. De saída de Lisboa, rogou uma praga que jamais seria esquecida pelos encarnados:

“Sem mim, nem daqui a
cem anos o Benfica conquistará uma taça continental.”


Iniciou-se, a partir de então, o que ficaria para sempre conhecido por todos em Portugal e no mundo como a Maldição de Béla Guttmann. Simões, jogador do Benfica naquela época, contou como surgiu essa maldição em entrevista à RTP:

“Bela Guttman queria continuar no Benfica. Para aquele tempo e com o estatuto que tinha conseguido, ao ter ganho duas Taças dos Clubes Campeões Europeus (TCCE) e títulos nacionais, foi exuberante na exigência de um contrato extremamente elevado. O Benfica teve grandes dificuldades em lhe pagar o prémio da Taça dos Campeões. Quando ele chegou ao Benfica disse que queria pôr um prémio se ganhasse a TCCE. O Benfica disse que sim pensando que seguramente não íamos ganhar. Aconteceu que ganhámos e depois foi um problema para lhe pagar. E portanto houve algumas dificuldades de corresponder às exigências de Bela Guttman.” disse.

Logo no ano seguinte, o Benfica chegou à sua terceira final seguida de Champions League, dessa vez contra o Milan de José Altafini - o popular Mazzola, para os brasileiros. E foi o ex-jogador do Palmeiras o carrasco dos portugueses. Após Eusébio abrir o placar, Mazzola virou a partida no segundo tempo e deu o título aos rossoneros, quebrando a hegemonia encarnada.



Ainda nos anos 60, a geração de ouro do Benfica teve mais duas oportunidades de desmentir Guttmann e voltar ao topo da Europa, mas também falhou: em 1964/65 foi derrotado pela Internazionale de Milão por 1 a 0, e, em 1967/68, perdeu para o Manchester United de Bobby Chalton por 4 a 1, sofrendo três gols na prorrogação.

Ignorada a princípio, a maldição começava a incomodar o time de Lisboa. E teve continuidade na década de 80. Primeiro, com o vice-campeonato da Copa da Uefa - atual Europa League, em 1983, contra o Anderlecht, com o time perdendo o jogo de ida na Bélgica por 1 a 0 e empatando em 1 a 1 no Estádio da Luz. Cinco anos depois, a sexta final de Uefa Champions League e o quarto fracasso, agora da forma mais dramática possível: na decisão por pênaltis, após um 0 a 0 contra o PSV.

"O passa-repassa-chuta são indispensáveis para chegar ao gol. Marca e desmarca. Se a bola não é nossa, marca. Se a bola é nossa, desmarca. Este é o principio fundamental do futebol."



Em 1990, o Benfica se preparava para a sua oitava final continental, novamente contra o Milan, pela Champions. O jogo ocorreria em Viena, cidade onde está enterrado o corpo de Guttmann, morto em 1981. Era a oportunidade ideal para quebrar de vez a maldição, já que estariam na “presença” do ex-técnico. Porém, mais uma vez, a fala de Guttmann prevaleceu e o Milan foi campeão ao vencer pela vantagem mínima, gol de Rijkaard.

Nas décadas seguintes, o clube passou pela pior fase de sua história, tendo dificuldades financeiras e montando times pouco competitivos. Só no final da década de 2000 voltou a figurar em fases mais avançadas de competições europeias, até que na temporada 2012/2013 chegou à final da Uefa Europa League, contra o Chelsea.

O time vinha sedento, disposto a quebrar o tabu e esquecer a derrota dolorida para o Porto no final de semana anterior, nos acréscimos, que deixou os Encarnados longe do título português. Mas, mais uma vez, o Benfica foi traído pelo tempo adicional: com um gol de Ivanovic, aos 47 do segundo tempo, o Chelsea fazia 2 a 1 e conquistava a taça.



Ao longo desses 51 anos, foram sete finais continentais e sete vices. Seis deles por um gol de diferença ou menos – quando a diferença de gols foi maior, houve prorrogação para deixar aquela sensação do “quase” no torcedor benfiquista. A cada final perdida, o fantasma de Béla Guttmann causa mais traumas e assusta ainda mais o clube português.

A mais recente maneira de tentar quebrar a maldição de Béla Guttmann, ocorreu sem grande alarde, no início deste ano. O Benfica inaugurou uma estátua em homenagem ao antigo treinador húngaro. Esculpido em bronze, com dois metros de altura, o monumento representa Guttmann em pé, segurando em cada braço um dos troféus de campeão europeu que conquistou pelos encarnados. Ao pé da estátua, instalada junto ao portão 18 do Estádio da Luz, está uma das mais emblemáticas frases ditas pelo treinador ao longo de sua passagem pelo clube: “Só quem está aqui dentro, no Benfica, é que pode saber o que é mística. Não há nenhum clube do mundo com a mística igual à do Benfica.”

O clube, porém, não se pronuncia de maneira oficial sobre o assunto da 'maldição'. No discurso de inauguração do monumento, o vice-presidente benfiquista, Rui Gomes da Silva, passou raspando pelo assunto. “Não se trata de exorcizar nada nem ninguém, mas de homenagear o treinador que confirmou, no princípio da década de 60, a fama europeia de um Benfica glorioso”, disse.




Os benfiquistas confiam que, com a estátua de Béla Guttmann, a praga pode ser quebrada. Afinal, acreditam, de alguma forma que o técnico está de volta ao estádio da Luz e, se não teve o aumento de salário pedido em 1962, poderá ser reverenciado por todos os encarnados que passam pelo portão 18. Foi o antídoto encontrado pelo Benfica para acabar com a maldição.



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