sábado, 18 de junho de 2016

MANUEL GOURLADE



Manuel Gourlade

Sem qualquer dúvida uma das nossas figuras mais "imortais".

Funcionário da Farmácia Franco foi a pessoa que teve a ideia de... fundar o Sport Lisboa.

Germinada em finais 1903 e concretizada em 28 de Fevereiro de 1904, juntaram-se forças entre o Belém Foot-ball Club (grupo dos irmãos Rosa Rodrigues, também conhecidos por Catataus) e a Associação do Bem (formada em 1903, por antigos casapianos).

Tanto quanto sei, os dois grupos treinavam nos terrenos das Salésias e nas terras do desenbargador. Da convivência e da vontade de derrotar o grupo dos irmãos Pinto Basto surgiu a ideia de juntar forças.

Surgiu? De quem? De Manuel Gourlade!

Foi ele quem mandou vir as regras e catálogos de equipamentos de futebol de Inglaterra.
Foi ele quem organizou os primeiros jogos.
Foi ele quem registou cuidadosamente os frequentadores dos primeiros treinos do recém-formado clube.
Foi ele quem exerceu as funções de treinador nos primeiros 4 anos.
Foi ele quem definiu pela primeira vez os famosos, embora agora esquecidos, 15 minutos à Benfica.
Foi ele quem dispendeu boa parte das suas economias para ajudar a que o clube sobrevivesse.

E este homem, jogador mediano, treinador empenhado e conhecedor, tesoureiro das primeira e segunda direcções, alma generosa, empenhada em fazer florescer um projecto tão carenciado das mais básicas condições para a actividade desportiva e organizativa próprias de um clube de futebol... este homem é necessariamente um imortal!

Gourlade foi o precursor de Cosme Damião. O primeiro que sonhou. Rodeado dos seus companheiros definiu um clube, vestido de encarnado berrante, para competir e ganhar. A ele e aos seus companheiros (mas principalmente a ele) devemos o mais importante: o início do Sport Lisboa, mais tarde Sport Lisboa e Benfica.

E o que dizia Cosme Damião de Gourlade:

"Tu não calculas o que era a figura desse rapaz. Estou-o vendo: aparecia sempre equipado, por completo - da cabeça aos pés... Kepi preto, camisa branca, calção preto, meias de futebol e botas também de futebol. Mas o que dava mais nas vistas era uma grande faixa sobre a camisa, a tiracolo, com as três cores da bandeira francesa.
Não soubemos a princípio o seu nome. Começou a aparecer talvez no terceiro treino. Não jogava. Dava apenas uns pontapés... Era o Manuel Goularde, o empregado da Farmácia Franco. Manuel Goularde conhecia muito bem as leis do jogo. Tomou para nós, o papel de técnico - do futebol. Passou a acamaradar francamente com os jogadores da Associação do Bem. E falavamos dele com simpatia, nos locais onde nos reuiniamos, geralmente numa farmácia do Conde Barão, também frequentada por sócios do Clube Naval, de Lisboa.
Mas continuavam a gostar do futebol. 
Manuel Goularde foi, mais tarde, quando nos faltavam jogadores, o ponto de ligação do grupo dos «Catataus»...
 ... O Manuel Goularde pensou que nós podíamos defrontar aquele grupo se incluíssemos no «team» jogadores do grupo dos «Catataus», ao tempo designado por grupo de Futebol Lisbonense, ou título semelhante. Fizemos assim, um misto entre a Associação do Bem e o Lisbonense. Julgo que perdemos o primeiro desafio, por 0-1. Mas ganhámos o segundo por 1-0. Os dois desafios foram disputados nas Salésias, talvez em Dezembro de 1903.
Houve festa rija numa cervejaria em frente da Farmácia Franco, para celebrar a vitória. E partiu da referida festa a ideia de nos reunirmos em clube.
Esta ideia discutimo-la depois. Hesitámos no título. Sport Lisbonense de Lisboa. Sport Lisboa. E optámos, no fim, pela última designação. Ficaram especialmente connosco o Goularde, o Daniel de Brito e os quatro irmãos Rosa Rodrigues.
Nasceu, assim, o Sport Lisboa.


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