Campo de Benfica (1916 - 1926)
A utilização do campo de
Benfica coincide com uma fase de crescimento do Clube em termos sociais e
associativos, mas não como se desejaria sob o ponto de vista desportivo, com o
Benfica a realizar, nos anos 20, uma das prestações menos positivas da sua
história.
Após a absorção dos
Desportos de Benfica, em 17/09/1916, o Clube passou a utilizar como sede as
instalações da Avenida Gomes Pereira, em cujas traseiras existia um campo
atlético (na Quinta de Marrocos), onde se praticava futebol desde 1914 e que
era utilizado por alguns clubes de Lisboa que não possuíam campo próprio, tal
como o GS Cruz Quebrada. Após a absorção, o Benfica celebrou com a Empresa dos
Melhoramentos de Benfica (EMB) - proprietária dos terrenos onde se situava o
campo - um contrato anual de arrendamento, no valor de 840$00, pago em
mensalidades adiantadas de 70$00.
A direcção deliberou, então,
utilizar em exclusividade o campo de Benfica, decidindo-se pelo abandono das
instalações de Sete Rios. Para oferecer melhores condições aos espectadores,
oficiou à EMB, propondo-lhe que, apesar de as obras a executar (ampliação das
bancadas e melhoria da segurança) serem da responsabilidade dessa empresa,
estas fossem efectuadas pela direcção do Clube, mas descontando a quantia
despendida para o efeito na importância em dívida para com a EMB. Em resposta,
esta alegou serem demasiado pesados os seus encargos, não podendo, por isso, aceder
por inteiro ao pretendido, prontificando-se, todavia, a comparticipar as obras
em 200$00, a descontar nas últimas prestações do débito dos Desportos de
Benfica.
"Taça Cosme
Damião"
Feito o acordo,
inaugurou-se, em 11/11/1917, o já remodelado campo de Benfica, com um encontro
frente ao Sporting, em que esteve em disputa a "Taça Cosme Damião". O
recinto conservava a antiga disposição (paralelo à Avenida Gomes Pereira);
possuía uma vedação melhorada; as bancadas, que antes eram paralelas às linhas
do campo, ficavam agora em ângulo; na parte superior do vestiário, havia sido
construída uma estrutura para albergar público, que dominava por completo todo
o campo; o espaço era mais amplo e desafogado, ao nível do melhor que podia
haver em Lisboa.
O complexo era guarnecido de
duas entradas separadas: uma pela porta principal da sede, na Avenida Gomes
Pereira (destinada ao público dos lugares reservados), e a outra (reservada ao
público do peão) pelo portão que dava para a Estrada de Benfica. E tão bem
instalado ficou que serviu para as iniciativas desportivas mais diversas.
Todavia, o Benfica não iria ficar por muito tempo neste campo. É que tudo o que
aí arrendara viria a ser vendido ao Ministério da Instrução (hoje Ministério da
Educação), para servir a Escola Normal de Lisboa (mais tarde Magistério
Primário e hoje Faculdade de Ciências da Educação).
Primeiro jogo nocturno
realizado em Portugal
Em 25/03/1919, o Benfica
conseguiu um contrato de arrendamento que lhe permitiu continuar a usar as
instalações. Em troca, porém, foi obrigado a ceder espaços aos alunos e
professores da Escola Normal. Graças ao espírito de iniciativa do Clube, o
campo de Benfica foi palco do primeiro jogo nocturno realizado em Portugal.
Colocaram-se, em redor do recinto, 18 reflectores de 1000 velas, instalando-se,
nos camarotes e nas bancadas, um número elevado de lâmpadas encarnadas e
brancas, colocadas alternadamente, de modo a produzir um excelente efeito de
conjunto. O jogo realizou-se em 10/09/1919 (uma quarta-feira) e colocou frente
a frente o Benfica e uma equipa mista, composta por jogadores do Império, do
Internacional e do V. Setúbal.
O problema dos terrenos e das
relações entre a Direcção do Clube e a Direcção da Escola agravou-se mais
tarde, no início dos anos 20. Numa reunião de Direcção, realizada em
10/04/1921, foi aprovada uma proposta de Cosme Damião para a mudança da
colectividade, de Benfica para as Amoreiras. O Benfica procurava, no entanto,
manter o espaço para outras modalidades, caso do hóquei em campo. A Escola
Normal, em reunião de 03/10/1921, não exigiu a saída imediata, permitindo que o
Benfica continuasse a usufruir dos direitos de inquilino (sede e campo). Por
via dessa resolução, o Clube podia permanecer no campo de Benfica por mais
algum tempo.
Falta de campos na cidade
que oferecessem boas condições para jogar
Os primeiros espaços
desportivos a serem sacrificados foram os "courts" de ténis, tendo
ficado apenas um, na sede. Mas, em 1923, o Benfica foi mesmo obrigado a
abandonar o campo, porque se entendeu construir uma rua de ligação entre a
Estrada de Benfica e a Estrada Nacional, atravessando o local onde se situava o
campo (rua que só viria a ser constuída em... 1997(!), ou seja, 74 anos
depois...). Em 1923/24, a falta de campos na cidade que oferecessem boas
condições para jogar levou a que apenas fossem utilizados dois espaços
desportivos no Regional: o Campo Grande (do Sporting) e o campo de Palhavã (do
Império Lisboa Clube). Na época de 1924/25, o Benfica utilizou o campo de
Palhavã para efectuar os seus jogos "em casa", enquanto não se
encontravam concluídos os trabalhos no seu futuro reduto: o Estádio das
Amoreiras.
No campo de Benfica, o nosso
clube realizou 27 jogos, tendo somado 11
vitórias, 6 empates, 10 derrotas e um total de 56-45 em golos. Enquanto
utilizou este espaço, o Benfica conquistou 2 Campeonatos Regionais (17/18 e
19/20), 2 Taças de Honra (19/20 e 21/22) e 1 Taça da Associação (21/22). O
último jogo efectuou-se em 11/03/1923,
para o Regional de Lisboa, com o Império LC (embora o campo tivesse continuado
a ser utilizado até 1926, para treinos eactividades de outras modalidades. O Clube
deixava, então, a área da cidade que lhe dera o nome definitivo. Só voltaria a
Benfica em 1954, após 30 anos de permanência em outros pontos de Lisboa.
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