sábado, 18 de junho de 2016


Campo de Benfica (1916 - 1926)



A utilização do campo de Benfica coincide com uma fase de crescimento do Clube em termos sociais e associativos, mas não como se desejaria sob o ponto de vista desportivo, com o Benfica a realizar, nos anos 20, uma das prestações menos positivas da sua história.

Após a absorção dos Desportos de Benfica, em 17/09/1916, o Clube passou a utilizar como sede as instalações da Avenida Gomes Pereira, em cujas traseiras existia um campo atlético (na Quinta de Marrocos), onde se praticava futebol desde 1914 e que era utilizado por alguns clubes de Lisboa que não possuíam campo próprio, tal como o GS Cruz Quebrada. Após a absorção, o Benfica celebrou com a Empresa dos Melhoramentos de Benfica (EMB) - proprietária dos terrenos onde se situava o campo - um contrato anual de arrendamento, no valor de 840$00, pago em mensalidades adiantadas de 70$00.

A direcção deliberou, então, utilizar em exclusividade o campo de Benfica, decidindo-se pelo abandono das instalações de Sete Rios. Para oferecer melhores condições aos espectadores, oficiou à EMB, propondo-lhe que, apesar de as obras a executar (ampliação das bancadas e melhoria da segurança) serem da responsabilidade dessa empresa, estas fossem efectuadas pela direcção do Clube, mas descontando a quantia despendida para o efeito na importância em dívida para com a EMB. Em resposta, esta alegou serem demasiado pesados os seus encargos, não podendo, por isso, aceder por inteiro ao pretendido, prontificando-se, todavia, a comparticipar as obras em 200$00, a descontar nas últimas prestações do débito dos Desportos de Benfica.

"Taça Cosme Damião"

Feito o acordo, inaugurou-se, em 11/11/1917, o já remodelado campo de Benfica, com um encontro frente ao Sporting, em que esteve em disputa a "Taça Cosme Damião". O recinto conservava a antiga disposição (paralelo à Avenida Gomes Pereira); possuía uma vedação melhorada; as bancadas, que antes eram paralelas às linhas do campo, ficavam agora em ângulo; na parte superior do vestiário, havia sido construída uma estrutura para albergar público, que dominava por completo todo o campo; o espaço era mais amplo e desafogado, ao nível do melhor que podia haver em Lisboa.

O complexo era guarnecido de duas entradas separadas: uma pela porta principal da sede, na Avenida Gomes Pereira (destinada ao público dos lugares reservados), e a outra (reservada ao público do peão) pelo portão que dava para a Estrada de Benfica. E tão bem instalado ficou que serviu para as iniciativas desportivas mais diversas. Todavia, o Benfica não iria ficar por muito tempo neste campo. É que tudo o que aí arrendara viria a ser vendido ao Ministério da Instrução (hoje Ministério da Educação), para servir a Escola Normal de Lisboa (mais tarde Magistério Primário e hoje Faculdade de Ciências da Educação).

Primeiro jogo nocturno realizado em Portugal

Em 25/03/1919, o Benfica conseguiu um contrato de arrendamento que lhe permitiu continuar a usar as instalações. Em troca, porém, foi obrigado a ceder espaços aos alunos e professores da Escola Normal. Graças ao espírito de iniciativa do Clube, o campo de Benfica foi palco do primeiro jogo nocturno realizado em Portugal. Colocaram-se, em redor do recinto, 18 reflectores de 1000 velas, instalando-se, nos camarotes e nas bancadas, um número elevado de lâmpadas encarnadas e brancas, colocadas alternadamente, de modo a produzir um excelente efeito de conjunto. O jogo realizou-se em 10/09/1919 (uma quarta-feira) e colocou frente a frente o Benfica e uma equipa mista, composta por jogadores do Império, do Internacional e do V. Setúbal.

O problema dos terrenos e das relações entre a Direcção do Clube e a Direcção da Escola agravou-se mais tarde, no início dos anos 20. Numa reunião de Direcção, realizada em 10/04/1921, foi aprovada uma proposta de Cosme Damião para a mudança da colectividade, de Benfica para as Amoreiras. O Benfica procurava, no entanto, manter o espaço para outras modalidades, caso do hóquei em campo. A Escola Normal, em reunião de 03/10/1921, não exigiu a saída imediata, permitindo que o Benfica continuasse a usufruir dos direitos de inquilino (sede e campo). Por via dessa resolução, o Clube podia permanecer no campo de Benfica por mais algum tempo.

Falta de campos na cidade que oferecessem boas condições para jogar

Os primeiros espaços desportivos a serem sacrificados foram os "courts" de ténis, tendo ficado apenas um, na sede. Mas, em 1923, o Benfica foi mesmo obrigado a abandonar o campo, porque se entendeu construir uma rua de ligação entre a Estrada de Benfica e a Estrada Nacional, atravessando o local onde se situava o campo (rua que só viria a ser constuída em... 1997(!), ou seja, 74 anos depois...). Em 1923/24, a falta de campos na cidade que oferecessem boas condições para jogar levou a que apenas fossem utilizados dois espaços desportivos no Regional: o Campo Grande (do Sporting) e o campo de Palhavã (do Império Lisboa Clube). Na época de 1924/25, o Benfica utilizou o campo de Palhavã para efectuar os seus jogos "em casa", enquanto não se encontravam concluídos os trabalhos no seu futuro reduto: o Estádio das Amoreiras.


No campo de Benfica, o nosso clube  realizou 27 jogos, tendo somado 11 vitórias, 6 empates, 10 derrotas e um total de 56-45 em golos. Enquanto utilizou este espaço, o Benfica conquistou 2 Campeonatos Regionais (17/18 e 19/20), 2 Taças de Honra (19/20 e 21/22) e 1 Taça da Associação (21/22). O último jogo efectuou-se  em 11/03/1923, para o Regional de Lisboa, com o Império LC (embora o campo tivesse continuado a ser utilizado até 1926, para treinos eactividades de outras modalidades. O Clube deixava, então, a área da cidade que lhe dera o nome definitivo. Só voltaria a Benfica em 1954, após 30 anos de permanência em outros pontos de Lisboa.


Nenhum comentário:

Postar um comentário