Campo da Feiteira - 1907/08 a 1910/11
Campo da Feiteira
O Campo da Feiteira foi o
primeiro campo atlético que pode considerar-se ter pertencido ao Benfica; onde
o clube afirmou o seu nome e começou a movimentar multidões e a arrastá-las,
também, para outros campos da região de Lisboa onde exibia o seu futebol.
Em 26-07-1906, foi fundado,
em Benfica, o Grupo Sport de Benfica (GSB), especialmente virado para a prática
de velocipedismo (ciclismo) e de pedestrianismo (atletismo). A festa inaugural
deste clube teve lugar em 02-09-1906, com um "Festival" que incluiu
provas velocipédicas, corridas e gincanas. As gincanas (corridas de fitas,
negativas e de púcaros) realizaram-se na Quinta da Feiteira, amavelmente cedida
pelo seu proprietário, o Exm.º sr. César de Figueiredo.
Em 26-05-1907, o GSB tomou
oficialmente posse do terreno na Quinta da Feiteira, paralelo à Estrada de
Benfica, passando, assim, a dispor de um campo para festivais desportivos e
jogos de futebol (com uma frente de 120 metros e uma largura de 79 metros), por
20 mil réis (20$00) por semestre. Inaugurou-se este campo em 14-07-1907 - acto
integrado no programa comemorativo do 1.º aniversário da fundação do GSB. O
espaço foi sofrendo ligeiros melhoramentos, principalmente o terreno de jogo,
com o objectivo de o tornar aplanado e sem irregularidades.
O Grupo Sport Lisboa (GSL) -
o SLB na sua fase embrionária - não tinha campo em Belém (zona onde nasceu),
mas, como alguns dos seus associados eram também sócios do GSB, sabiam da
existência do seu campo que, apesar da qualidade, não era utilizado para
futebol. Assim, em 24-11-1907, o GSL actou pela 1.ª vez na Feiteira, embora
ainda fosse considerado campo neutro. Nesse encontro, a contar para o Regional
de Lisboa, vencemos o Internacional (CIF), por 1-0.
Meses depois (em Março de
1908), o GSB muda o nome para Sport Clube de Benfica. Em 13-09-1908, após a
absorção das estruturas do GSB (associados, dirigentes, sede e instalações
desportivas), o "Glorioso" Sport Lisboa acrescenta Benfica ao nome,
por influência do local para onde se transfere, passando, então, a designar-se
de Sport Lisboa e Benfica (SLB) e a utilizar o campo da Quinta da Feiteira.
Em 04-11-1908, numa reunião
de Direcção, foi resolvido contactar o proprietário, César de Figueiredo, com o
objectivo de obter dele uma autorização para realização de obras, consideradas
indispensáveis para melhorar as condições do espaço. Com o financiamento do
presidente da Direcção, João José Pires, pretendia dotar-se o campo de bancadas
e construir-se uma sede. E porque o arranjo deveria ser importante,
pedir-se-ia, também, um contrato de arrendamento por um prazo mínimo de 10
anos.
O resultado desta diligência
foi comunicado pelo próprio presidente da Direcção. O dono do terreno não faria
o arrendamento por dez anos, devido ao facto de o terreno estar destinado, pela
Câmara Municipal de Lisboa (CML), a um parque. Mas, caso a CML não resolvesse,
a curto prazo, dar início ao seu projecto, o sr. César de Figueiredo venderia o
terreno (avaliado em 60 contos), para construção de casas. A confirmar-se ser
esta a solução, o mesmo proprietário daria preferência ao clube, fazendo o
arrendamento, a longo prazo, da parte do terreno onde se encontrava o campo,
avaliado em 20 contos (20 milhões de réis!). Desta forma, a renda seria de 4
por cento ao ano sobre aquela importância, ou seja, 800 mil réis (800$00).
A informação provocou a
todos grande preocupação. Restabelecida a serenidade, o vice-presidente da
Direcção, Alfredo Alexandre Luís da Silva, afirmou que a renda era pesada de
mais, sendo por isso insustentável para os recursos financeiros da
colectividade. A Direcção teria de abandonar a ideia de promover quaisquer
melhoramentos no campo da Feiteira, para procurar, na área de Benfica, um
terreno que oferecesse condições para a construção de um campo de jogos, digno
de um clube já com grande projecção no movimento desportivo da Capital.
Campo da FeiteiraPara o novo
campo reservar-se-ia o projecto antes elaborado para as obras na Feiteira.
Afinal, durara pouco tempo o convencimento de que o problema da falta de campo
privativo se havia resolvido por completo com a ida para Benfica (Feiteira).
Não foi possível continuar nesse local. Porém, durante 3 épocas (de 1908/09 a 1910/11),
realizaram-se, na Quinta da Feiteira, grandes jogos de futebol, que
movimentaram multidões e que ajudaram o Benfica a consolidar a sua popularidade
e o seu palmarés desportivo.
A primeira grande
vitória do nosso Clube, então ainda com o nome de Sport Lisboa, ocorreu em
10-02-1907 e foi imposta ao Carcavellos Club, no seu campo (2-1) - a formação
dos ingleses estava invencível há 9 épocas (!), desde 1898. Depois de nos
termos afirmado como o melhor clube de portugueses, passaram a chamarmo-nos
"Glorioso"... até hoje! Apesar de, nesse jogo, não se ter verificado
uma grande afluência de público, a notícia correu célere entre os desportistas
de Lisboa, que começaram, assim, a acorrer aos nossos jogos, sempre na ânsia de
ver nova vitória retumbante - o que fez com que, na Quinta da Feiteira,
houvesse sempre muitos espectadores.
Em 09-01-1910, cerca de 8000
pessoas assistiram ao jogo entre o "Glorioso", que estava a fazer uma
temporada sensacional, e o Carcavellos Club, invencível há 3 anos (desde o tal
jogo de 10-02-1907). Voltámos, então, a derrotar os "mestres
ingleses", desta vez por 1-0, naquela que foi a nossa 2.ª vitória sobre
esse clube mítico da história do futebol português! Conquistámos, também, pela
primeira vez, um título oficial de campeão regional em 1.ª categoria - o
primeiro de muitos e muitos títulos conseguidos ao longo da nossa história. O
prestígio e a popularidade do nosso Clube cresciam sem parar e, devido à
localização da Feiteira (junto à igreja de Benfica, no bairro com a mesma
denominação), o nome Benfica começou a ser cada vez mais utilizado, em
detrimento da apelidação Sport Lisboa.
Durante o
ano de 1908 e seguintes, os dirigentes do nosso clube continuaram a procurar
terrenos para instalar um campo, embora com resultados negativos. Em 1910,
ainda se realizaram obras de conservação na Feiteira, no valor de 70$460 réis,
graças a um donativo conseguido por acção da generosidade de alguns sócios.
Ainda nesse ano, numa reunião realizada no dia 22 de Abril, o problema - que
persistia, pedindo resolução urgente (o clube corria o risco de ficar sem
campo) - voltou a ser fruto de análise cuidada. Mas a solução só viria a surgir
em 1912, com o arrendamento, válido a partir do ano seguinte, do campo de Sete
Rios. Foram quatro longos anos de dúvidas e de dificuldades, mas
ultrapassadas...
Seria já com a perspectiva
de mudar de local que o Benfica realizaria, em 22-05-1911, o seu último jogo na
Quinta da Feiteira e, ao mesmo tempo, o primeiro jogo internacional da sua
história.
O adversário (francês) foi o
Stade Bordelais Université Club. Era o adeus à Feiteira e a Benfica, onde o
Clube ganhou especial projecção, arrastando multidões, difundindo a sua
popularidade e sobrepondo à designação de Sport Lisboa a força do nome Benfica.
Aí disputámos 22 jogos, traduzidos em 14 vitórias, 3 empates e 5 derrotas; 56
golos marcados e 18 golos sofridos.
Actualmente, os terrenos
onde se situou o recinto estão ocupados por prédios e quintais, entre a Estrada
de Benfica e a Rua Emília das Neves, já que o destino da Quinta da Feiteira
foi, efectivamente, a urbanização, com a criação duma nova rua (Emília das
Neves), que se localiza exactamente numa das linhas laterais do antigo campo.
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