sábado, 18 de junho de 2016


Campo da Feiteira - 1907/08 a 1910/11


Campo da Feiteira



O Campo da Feiteira foi o primeiro campo atlético que pode considerar-se ter pertencido ao Benfica; onde o clube afirmou o seu nome e começou a movimentar multidões e a arrastá-las, também, para outros campos da região de Lisboa onde exibia o seu futebol.
Em 26-07-1906, foi fundado, em Benfica, o Grupo Sport de Benfica (GSB), especialmente virado para a prática de velocipedismo (ciclismo) e de pedestrianismo (atletismo). A festa inaugural deste clube teve lugar em 02-09-1906, com um "Festival" que incluiu provas velocipédicas, corridas e gincanas. As gincanas (corridas de fitas, negativas e de púcaros) realizaram-se na Quinta da Feiteira, amavelmente cedida pelo seu proprietário, o Exm.º sr. César de Figueiredo.

Em 26-05-1907, o GSB tomou oficialmente posse do terreno na Quinta da Feiteira, paralelo à Estrada de Benfica, passando, assim, a dispor de um campo para festivais desportivos e jogos de futebol (com uma frente de 120 metros e uma largura de 79 metros), por 20 mil réis (20$00) por semestre. Inaugurou-se este campo em 14-07-1907 - acto integrado no programa comemorativo do 1.º aniversário da fundação do GSB. O espaço foi sofrendo ligeiros melhoramentos, principalmente o terreno de jogo, com o objectivo de o tornar aplanado e sem irregularidades.

O Grupo Sport Lisboa (GSL) - o SLB na sua fase embrionária - não tinha campo em Belém (zona onde nasceu), mas, como alguns dos seus associados eram também sócios do GSB, sabiam da existência do seu campo que, apesar da qualidade, não era utilizado para futebol. Assim, em 24-11-1907, o GSL actou pela 1.ª vez na Feiteira, embora ainda fosse considerado campo neutro. Nesse encontro, a contar para o Regional de Lisboa, vencemos o Internacional (CIF), por 1-0.

Meses depois (em Março de 1908), o GSB muda o nome para Sport Clube de Benfica. Em 13-09-1908, após a absorção das estruturas do GSB (associados, dirigentes, sede e instalações desportivas), o "Glorioso" Sport Lisboa acrescenta Benfica ao nome, por influência do local para onde se transfere, passando, então, a designar-se de Sport Lisboa e Benfica (SLB) e a utilizar o campo da Quinta da Feiteira.

Em 04-11-1908, numa reunião de Direcção, foi resolvido contactar o proprietário, César de Figueiredo, com o objectivo de obter dele uma autorização para realização de obras, consideradas indispensáveis para melhorar as condições do espaço. Com o financiamento do presidente da Direcção, João José Pires, pretendia dotar-se o campo de bancadas e construir-se uma sede. E porque o arranjo deveria ser importante, pedir-se-ia, também, um contrato de arrendamento por um prazo mínimo de 10 anos.

O resultado desta diligência foi comunicado pelo próprio presidente da Direcção. O dono do terreno não faria o arrendamento por dez anos, devido ao facto de o terreno estar destinado, pela Câmara Municipal de Lisboa (CML), a um parque. Mas, caso a CML não resolvesse, a curto prazo, dar início ao seu projecto, o sr. César de Figueiredo venderia o terreno (avaliado em 60 contos), para construção de casas. A confirmar-se ser esta a solução, o mesmo proprietário daria preferência ao clube, fazendo o arrendamento, a longo prazo, da parte do terreno onde se encontrava o campo, avaliado em 20 contos (20 milhões de réis!). Desta forma, a renda seria de 4 por cento ao ano sobre aquela importância, ou seja, 800 mil réis (800$00).

A informação provocou a todos grande preocupação. Restabelecida a serenidade, o vice-presidente da Direcção, Alfredo Alexandre Luís da Silva, afirmou que a renda era pesada de mais, sendo por isso insustentável para os recursos financeiros da colectividade. A Direcção teria de abandonar a ideia de promover quaisquer melhoramentos no campo da Feiteira, para procurar, na área de Benfica, um terreno que oferecesse condições para a construção de um campo de jogos, digno de um clube já com grande projecção no movimento desportivo da Capital.
Campo da FeiteiraPara o novo campo reservar-se-ia o projecto antes elaborado para as obras na Feiteira. Afinal, durara pouco tempo o convencimento de que o problema da falta de campo privativo se havia resolvido por completo com a ida para Benfica (Feiteira). Não foi possível continuar nesse local. Porém, durante 3 épocas (de 1908/09 a 1910/11), realizaram-se, na Quinta da Feiteira, grandes jogos de futebol, que movimentaram multidões e que ajudaram o Benfica a consolidar a sua popularidade e o seu palmarés desportivo.
A primeira grande vitória do nosso Clube, então ainda com o nome de Sport Lisboa, ocorreu em 10-02-1907 e foi imposta ao Carcavellos Club, no seu campo (2-1) - a formação dos ingleses estava invencível há 9 épocas (!), desde 1898. Depois de nos termos afirmado como o melhor clube de portugueses, passaram a chamarmo-nos "Glorioso"... até hoje! Apesar de, nesse jogo, não se ter verificado uma grande afluência de público, a notícia correu célere entre os desportistas de Lisboa, que começaram, assim, a acorrer aos nossos jogos, sempre na ânsia de ver nova vitória retumbante - o que fez com que, na Quinta da Feiteira, houvesse sempre muitos espectadores.

Em 09-01-1910, cerca de 8000 pessoas assistiram ao jogo entre o "Glorioso", que estava a fazer uma temporada sensacional, e o Carcavellos Club, invencível há 3 anos (desde o tal jogo de 10-02-1907). Voltámos, então, a derrotar os "mestres ingleses", desta vez por 1-0, naquela que foi a nossa 2.ª vitória sobre esse clube mítico da história do futebol português! Conquistámos, também, pela primeira vez, um título oficial de campeão regional em 1.ª categoria - o primeiro de muitos e muitos títulos conseguidos ao longo da nossa história. O prestígio e a popularidade do nosso Clube cresciam sem parar e, devido à localização da Feiteira (junto à igreja de Benfica, no bairro com a mesma denominação), o nome Benfica começou a ser cada vez mais utilizado, em detrimento da apelidação Sport Lisboa.


Durante o ano de 1908 e seguintes, os dirigentes do nosso clube continuaram a procurar terrenos para instalar um campo, embora com resultados negativos. Em 1910, ainda se realizaram obras de conservação na Feiteira, no valor de 70$460 réis, graças a um donativo conseguido por acção da generosidade de alguns sócios. Ainda nesse ano, numa reunião realizada no dia 22 de Abril, o problema - que persistia, pedindo resolução urgente (o clube corria o risco de ficar sem campo) - voltou a ser fruto de análise cuidada. Mas a solução só viria a surgir em 1912, com o arrendamento, válido a partir do ano seguinte, do campo de Sete Rios. Foram quatro longos anos de dúvidas e de dificuldades, mas ultrapassadas...

Seria já com a perspectiva de mudar de local que o Benfica realizaria, em 22-05-1911, o seu último jogo na Quinta da Feiteira e, ao mesmo tempo, o primeiro jogo internacional da sua história.

O adversário (francês) foi o Stade Bordelais Université Club. Era o adeus à Feiteira e a Benfica, onde o Clube ganhou especial projecção, arrastando multidões, difundindo a sua popularidade e sobrepondo à designação de Sport Lisboa a força do nome Benfica. Aí disputámos 22 jogos, traduzidos em 14 vitórias, 3 empates e 5 derrotas; 56 golos marcados e 18 golos sofridos.


Actualmente, os terrenos onde se situou o recinto estão ocupados por prédios e quintais, entre a Estrada de Benfica e a Rua Emília das Neves, já que o destino da Quinta da Feiteira foi, efectivamente, a urbanização, com a criação duma nova rua (Emília das Neves), que se localiza exactamente numa das linhas laterais do antigo campo.



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